quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O que eu aprendi no Chile

Quando eu resolvi me mudar pra Santiago, eu sabia que muita coisa ia mudar na minha vida. Mas nunca pensei que eu ia amadurecer e aprender TANTO.

Em quase três anos eu:

Aprendi a cozinhar
Sim. Antes de me mudar pro Chile eu não sabia fazer arroz, ovo frito, NADA. Absurdo? Sim, mas o fato é que, apesar de me interessar por culinária, eu nunca cheguei perto do fogão por várias razões: a moça que trabalhava em casa deixava a comida pronta, eu tinha VR e podia almoçar fora todos os dias... e como minha mãe sempre detestou cozinhar, nunca rolou aquela coisa de "vem cá filha, vou te ensinar o básico pra você sobreviver".
Quando morava com o meu ex, muita coisa eu comprava já pronta ou congelada ou então ele cozinhava pra nós dóis. Depois de um tempo, minha mãe fez um grupo no facebook chamado Ajudando a Ana Clara na Cozinha, hauhauha. Sim, ela reuniu minhas amigas e as amigas dela pra me passarem receitas e dicas e aí eu fui me arriscando mais, consegui fazer meu primeiro arroz, a primeira sopa de abóbora com gengibre... mas devo dizer, eu só comecei a cozinhar meeeesmo ano passado. Foi quando me dei conta que eu estava MUITO acima do meu peso e precisava fazer algo a respeito. Depois de voltar das férias (vim pro Brasil e fiquei 15 dias aqui), comecei a malhar e ir atrás de receitas mais lights e saudáveis. Parei de comer fora todo santo dia e devo dizer que meus dotes culinários foram melhorando.
Hoje eu já faço estrogonofe, carne de panela, pizza de couve flor, salmão assado e mais um monte de coisa que até pouco tempo atrás eu nem imaginava que seria capaz. A única coisa que eu não chego perto é de panela de pressão, hauhauha. Pânico define!

Comecei a dar mais valor ao verão
Quem me conhece sabe: eu sempre odiei o calor do fundo da minha alma. Fazia mais de 25º e eu já tava reclamando, praguejando, o verão me deixava deprimida, irritada e eu só conseguia ficar plenamente feliz quando os termômetros marcavam de 20º pra baixo. Em 2013 eu cheguei em Santiago em Junho, alto inverno e malandro... quase MURRI! É um frio que a gente não sente aqui, é úmido e seco ao mesmo tempo, é um negócio que penetra em você... e a gente não tá acostumado, não tem roupa pra isso. Enfim, é foda! Quem vai como turista pra passar 10, 15 dias é legal, lindo, uma delícia esse friozinho pra tomar um vinho e comer queijos... Mas e quem mora lá e acorda as seis da manhã com 0,5º de temperatura? Fora que o calor de Santiago é diferente do daqui. Ele é seco e por ser seco, a gente não fica suando em bicas, sabe? Pra mim era bem de boa, mas quem tem problema respiratório deve sofrer, porque não cai UMA gota de água durante o verão.
Enfim, agora que voltei pro Brasil até esses dias instáveis de primavera tem me irritado... pena que verão daqui é uma bosta por causa das chuvas e da umidade.. :(

Aprendi que não se pode ter tudo na vida
Eu me mudei pro Chile e me dei conta que a gente nunca vai estar 100% completo. Porque quando estava lá, ficava feliz por estar ao lado do meu então namorado e por viver numa cidade incrível. Feliz por estar conhecendo uma cultura nova e novos amigos, mas por outro lado me dava uma saudade absurda dos meus pais, minha família, meu irmão, meus amigos e até de São Paulo. Eu via os posts do pessoal aqui indo na Augusta ou no Manifesto (um bar daqui, que é tipo minha segunda casa) e ficava pensando: caramba, que vontade de estar lá.
Pois bem, agora que eu tô aqui e vejo fotos dos meus amigos de lá e penso: cacete, que saudade, que vontade de estar lá... é gente, num é fácil, viu?

Ninguém morre de dor de amor
Parece besteira, mas não é não. Meu namoro terminou da pior maneira possível numa madrugada de Domingo pra Segunda. Fui pega de surpresa, ouvi coisas que não esperava e de repente me vi sozinha num país que não era o meu, ganhando o equivalente a mil reais e precisando sair daquele apartamento o mais rápido possível. Menos de 5 horas depois do término, eu tava na recepção do hotel que eu trabalhava, com um sorriso de orelha a orelha tendo que atender os passageiros. Claro que eu me escondia no banheiro a cada 20 minutos pra poder chorar, mas nunca dei vexame e nem deixei de fazer meu trabalho.
Eu precisei dar meus pulos, arranjar um lugar onde eu e o Viejo pudéssemos morar e que eu tivesse condições de pagar. Foi foda, mas posso falar? Morro de orgulho de mim mesma por ter superado tudo isso e ainda sair por cima.

Aprendi a fazer minhas unhas
Quer dizer, não é que eu exatamente aprendiiiii aprendiiii... já falei aqui várias vezes que as manicures lá são péssimas, fazem a unha mal feita e pra piorar são caras. Quando eu me mudei, levei vários esmaltes meus e um kitzinho básico com lixa, palito, espátula, alicate, base e extra brilho e fui me virando. Não era AQUEEEELA manicure tipo WOW mas com certeza ficava melhor do que as ~profissionais~.

Deixei de ser preguiçosa e passei a andar mais
Uma das coisas que eu mais amava em Santiago era o fato da cidade ser plana. E tudo ser perto uma coisa da outra. Lá eu quase não pegava metrô e ônibus menos ainda. Fiz vários trajetos a pé, caminhadas de mais de 40 minutos feliz da vida, aproveitando a cidade, parando na esquina pra tirar foto de alguma coisa que tinha achado bonita... todos os dias pra ir trabalhar eu ia andando da minha casa até o hostel e isso levava uns 20, 25 minutos. Pena que aqui em São Paulo eu ando beeem menos. Acho que é esse ritmo doido que a gente leva aqui que deixa a gente mais cansado. Sem contar que a cidade é muito grande e isso me bodeia um pouco.

Aprendi a beber vinho
Meu primeiro porre foi aos 16 anos com vinho barato em Boracéia. De lá pra cá tive outros porres obviamente, mas nenhuma bebida me traumatizou mais do que vinho. Acho que só tequila, que hoje evito o máximo que posso, hahaha. Mas falando sério, eu sentia cheiro de vinho e já me embrulhava o estômago, vinha na memória a cena, eu vomitando as tripas, aquele gosto azedo na boca e... too much information, desculpa. Enfim, morando em Santiago e naquele puta frio do inverno o gostoso mesmo era beliscar uns queijinhos com um bom merlot. A breja não combinava, né? Hoje em dia sou capaz de tomar uma garrafa de vinho tinto inteira sem a ajuda de ninguém, hauhauha. E sem passar mal no dia seguinte <3

Não vou morrer de infelicidade se eu perder o show de alguma banda que eu ame
Antes de me mudar eu me dava vários luxos, né? Manicure toda semana, jantar fora, balada, voltar de táxi pra casa, roupa nova... até um dia antes de ir embora eu morava com a minha mãe, então o salário era todo pra mim. Quando a gente vai pra outro país começa a ver que, OPA, você precisa crescer e pagar contas. E que nem sempre dá pra fazer tudo isso + pagar contas + ir em todos os shows de todas as bandas que você curte. Resultado: perdi Iron Maiden, Judas Priest, Motorhead (e perdi mesmo, porque o Lemmy morreu ano passado e nunca poderei vê-los ao vivo), The Mission, Black Label Society, Foo Fighters e mais um MONTE de show foda... morri por isso? Não. Então segue o jogo.

Aprendi a ter mais tolerância com as pessoas
Eu sou meio pavio curto, não tenho lá muita paciência e nunca na minha vida pude imaginar que iria trabalhar na recepção de um hotel ou hostel. Nem quando eu fazia colégio técnico de turismo! Mas a vida dá voltas e trabalhar numa área que não tinha nada a ver comigo me fez ganhar experiência (profissional e de vida) e ser mais paciente com as pessoas. Quantas vezes eu já não olhei pra um passageiro sorrindo por fora e mandando ele tomar no c* por dentro?

Sofri bullying
Siiiiimmmmm, sofri e muito! Mas foi em um determinado período, 6 meses pra ser exata. Quando trabalhei num hotel no bairro da Bella Vista. O dono foi a pior pessoa que conheci no Chile e uma das piores que já passaram pela minha vida. Arrogante, mal educado, grosso, antiético, zero profissional, fazia diferença entre os funcionários, destratava as faxineiras, classista... um nojo de pessoa. Sinceramente espero que tudo de ruim aconteça com ele. O hotel era uma graça e as pessoas que trabalhavam lá também, uns queridos. Mas ele tinha uma energia muito negativa que acabava com a graça... e ele me pegou pra Cristo quando trabalhei com ele. Implicava com o meu sotaque (oi né?), com os piercings, com as tattoos (sendo que quando ele me entrevistou e me contratou ele VIU como eu era né?), com o frio que eu sentia no inverno... sério, era surreal. Só que, quando eu me mudei pro Chile, prometi pra mim mesma que NUNCA ia deixar me tratarem diferente por ser estrangeira. Então eu respondia atravessado pra ele e nunca baixei a cabeça. E isso deixou ele puto, hahahaha.
De qualquer maneira, esses tapas na cara serviram como aprendizado e fortalecimento.

Provei e comprovei que morar sozinha é bom DEMAIS
Desde pequena eu sempre falava pros meus pais que eu ia embora de casa logo, que queria morar sozinha. Na minha pré adolescência, a maior vitória pra mim era saber que eles iam sair pra jantar/cinema/motel/whatever no sábado a noite e eu ia ficar sozinha em casa de madrugada, hahahahaha. Não fui embora de casa tão cedo assim, mas fui... e cara, não existe nada melhor do que morar sozinha. Eu poderia fazer um post só sobre isso, porque é muito amor <3
Além da liberdade de poder fazer tudo o que você quer na hora que você quer, ainda aprende a lidar com vários medos e claro, começa a apreciar sua própria companhia.

Vi que sim, eu posso
Eu posso tirar meu visto sem depender de ninguém e sem precisar casar. Eu posso encontrar emprego por conta própria, sem que alguém me indique. Eu posso me mudar de casa, arrastar caixas, cama, geladeira sozinhas. Eu posso e ponto!

Passei a valorizar meu país
Nunca fui patriota, sempre quis sair daqui, falava mal, país de terceiro mundo, cultura de merda... mas posso falar? Só quem passa um tempo fora sabe a falta que faz estar em casa. Você pode estar num país ultra desenvolvido que te receba bem... mas vai perceber que ele TAMBÉM tem seus defeitos. Porque afinal, nenhum lugar é perfeito. E no fundo no fundo: there's no place like home.


Um comentário:

  1. Que experiência!! Parabéns por ter amadurecido em meio a turbulências, não é facil morar fora do país longe de todos, mas vale o crescimento.

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