terça-feira, 12 de setembro de 2017

11 de Setembro e o que precisamos aprender com os chilenos

Dando uma pequena pausa nos posts sobre minhas mini férias em Santiago pra contar aqui uma coisa que eu vivenciei ontem, 11/09.

Como eu já escrevi aqui no blog, essa data é muito importante para os chilenos, porque é aniversário do golpe militar. Foi nesse dia, há 44 anos, que as tropas militares do Pinochet invadiram o Palacio La Moneda, Salvador Allende se suicidou (?) e deu-se início ao pior período que um país pode passar: o de uma ditadura.
E mesmo depois da volta da democracia ao país com a votação do Si e do No - que aconteceu em 1988 - todos os anos nessa data os chilenos fazem questão de lembrar daqueles acontecimentos fatídicos. Rolam protestos (alguns até violentos), memoriais, passeatas...

E ontem de manhã eu vi no grupo de chilenos que moram em São Paulo (sim, eu faço parte, hauhauha) que ia rolar um ato em memória ao golpe e às suas vítimas as 20:00 em frente à embaixada Chilena de São Paulo, que fica na Avenida Paulista. Aproveitei que minha aula de francês era ali perto e dei uma passada pra ver o que ia rolar.

O que vi foi o seguinte: 3 chilenos (uma estudante de intercâmbio e 2 caras que moram aqui há alguns anos) e um brasileiro que era amigo de um deles, prestando uma pequena, porém significativa homenagem ao Allende, Victor Jara e tantos outros que morreram pelas mãos dos militares. Levaram uma pequena bandeira do Chile, velas vermelhas e brancas, cravos vermelhos e fotos de alguns chilenos mortos. Um deles levou o último discurso do Allende (que você pode escutar legendado em espanhol aqui) para ecoar numas caixinhas e fez-se um minuto de silêncio.




Foi pesado e emocionante ao mesmo tempo. Muitas pessoas que passavam apressadas pararam pra ver o que estava acontecendo, queriam saber o que era aquilo. E percebi que elas também ficaram tocadas de alguma forma.
Comentei com aqueles chilenos que me sentia um pouco intrusa, porque afinal eu sou brasileira e estava ali naquele ato tão deles... e um deles me falou algo mais ou menos assim:
- Não precisa ser chileno pra estar aqui. Pra se sensibilizar, prestar homenagens, relembrar...

Fiquei pensando nisso por alguns segundos e respondi em seguida: até porque, nós brasileiros também sofremos um longo período de ditadura militar e todos os dias 31 de Março - nosso aniversário de golpe - a gente não faz nada. Não se fala no assunto, os grandes jornais se calam e fica por isso mesmo, como se fosse uma tentativa de esquecer o que aconteceu.

E sempre que chega o 11 de Setembro chileno, vejo muitos conflitos na internet de pessoas falando que é preciso seguir em frente, que é chato tocar nesse assunto o tempo todo. Mas cara... a gente PRECISA falar disso. Precisa lembrar sim, todos os anos. Precisa procurar informações na internet, precisa fazer especial na TV do golpe militar... porque 'un pueblo que no recuerda su historia, está condenada a repetirla'. Quer prova maior que isso que esse crescente número de pessoas que pedem a volta dos militares ou de gente que insiste em dizer que nunca houve ditadura?
Nós brasileiros deveríamos aprender com os chilenos de que ter memória faz bem para gente e para as futuras gerações.

Y les digo que tengo la certeza de que la semilla que entregáramos a la conciencia digna de miles y miles de chilenos, no podrá ser segada definitivamente.
Tienen la fuerza, podrán avasallarnos, pero no se detienen los procesos sociales ni con el crimen... ni con la fuerza.
La historia es nuestra y la hacen los pueblos.


Foi muito bacana ter estado lá ontem. Um dos chilenos estava muito feliz de ter conseguido realizar esse memorial, mesmo que pequeno. Agradeceu a presença dos outros 4 (me incluindo nesse número) e até trocamos nossos Whatsapp's pra combinar de irmos juntos à fonda oficial que vão fazer Sábado, pra comemorar as fiestas pátrias.

E pra esse evento, eu não vejo a hora.

EJALEEEE.

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