quinta-feira, 28 de setembro de 2017

28/09/2013 e sobre nunca mais estar só

Aquela pausa básica na minha saga porque hoje merece.
Hoje é um dia muito especial, pois há 4 anos eu tive um 'encontro de almas'.

Acho que já comentei aqui brevemente sobre a enorme quantidade de cachorros que vivem nas ruas de Santiago. Foi um detalhe curioso que me chamou a atenção logo na minha primeira viagem à capital chilena e também quando fui para San Pedro de Atacama.
Depois quando me mudei para lá, percebi que esses perros callejeros meio que fazem parte do cotidiano dos santiaguinos, e que eles são sim muito bem cuidados.
Cansei de ver cachorros grandes e bem nutridos passeando livremente pelas ruas da cidade. Cachorros de raça tipo pastor alemão e até um husk siberiano (SIM!).










Uma coisa que é muito comum lá em Santiago é os estabelecimentos comerciais 'adotarem' um cachorro de rua. No apart hotel que eu trabalhava tinha uma farmácia do lado e eles cuidavam de uns pastores alemães, dando comida e água e deixando que eles dormissem lá dentro quando estava muito frio. Aliás, se você estiver andando por lá e se deparar com potinhos de água e comida amarrados a postes e troncos de árvores, saiba que é absolutamente normal. Até mesmo o Andes Hostel tem uma cachorra de estimação, a Kika. Ela é uma vira lata gordinha que vive entre a recepção do hostel e a Plaza de Armas. Perdi as contas de quantas vezes eu trabalhei com ela deitada aos meus pés, muito tranquila. Quem passa por lá fica APAIXONADO por ela, faz carinho, dá comida, água, enfim... a Kika é tipo um ponto turístico e tem até fanpage oficial no Facebook HAHAHA.







Bom e com tanto cachorro abandonado, é claro que existem várias associações e ONG's que resgatam esses animaizinhos, cuidam e depois colocam para adoção. E é agora que o post de hoje começa de verdade.

Há 4 anos estava eu e meu então namorado dando uma volta pela cidade. Era Sábado, comecinho de Primavera. Um dia bem bonito, com bastante sol e céu azul, mas aquele ventinho ainda meio gelado. Estávamos passando pela Plaza Italia, pertinho do Metrô Baquedano. A ideia era subir de funicular até o topo do San Cristobal quando vi uma feira de adoção de cachorros. E eu que não sou boba nem nada, fui lá brincar com uns filhotinhos.

Mas o que não estava nos meus planos era que, ao ir embora eu me deparar com um cocker cor caramelo, senhorzinho, sentado enquanto o veterinário segurava sua guia.
Foi instantâneo. Me lembrei da minha cocker que havia falecido um ano atrás e comecei a chorar, caminhando em direção ao coitado do cachorro.

O veterinário então já aproveitou de me apresentar ao Milko, dizendo que ele era um animal muito bonzinho, tranquilo, que não latia e só fazia suas necessidades na rua. Me ofereceu a guia para dar uma voltinha com ele ali por perto e eu fui. Andamos um pouco e o Milko empacou. Acho que estava com medo, assustado, sei lá. Não tive dúvidas. Peguei-o no colo igual a gente faz com um neném recém-nascido. Foi ali que eu terminei de me apaixonar por ele. Por que, né? Como não amar aquele olharzinho tão peculiar de um cocker?

Depois de muito pensarmos, eu e meu ex fomos convencidos pelo veterinário de levarmos o Milko para casa como lar temporário, por duas semanas. Caso não nos acostumasse a ele ou vice-e-versa, eles iriam buscá-lo sem problemas. Isso foi num sábado. No Domingo, o Carlos disse:
- Ana, liga lá pros caras e fala que vamos ficar com o cachorro.





Essa foto foi tirada logo no seu primeiro dia em casa.
 'Nascia' assim o Viejo, meu filho.
Algumas semanas depois, a ONG veio até a minha casa, deu as primeiras vacinas, fez uma entrevista comigo perguntando coisas do tipo onde ele dorme, o que ele come, se tínhamos condições para levar ao veterinário etc etc etc. Por último, assinei um documento que oficializava a adoção. Achei isso sensacional, pois mostra o cuidado e a responsabilidade com que esse pessoal encara o trabalho deles

O contrato. Era como se eu estivesse adotando uma criança

E hoje, depois de 4 anos. Depois de muitas mudanças de casa, depois de momentos bem difíceis, depois de ter que sair debaixo de sol e chuva para levá-lo para passear. Depois de meses de incertezas, sem saber como iria trazê-lo de Santiago a São Paulo, eu só posso me sentir feliz e grata. Feliz por ter uma companhia incondicional, que sempre esteve do meu lado mesmo quando eu estava muito triste. Grata à vida por ter tido esse encontro tão especial...

'Adotei para salvar sua vida, mas foi ele que salvou a minha'





Um comentário:

  1. É muito interessante ler os blogs por aí e ver gente compartilhando a vida abertamente, seja em blog, youtube etc.

    Parece que não mas a gente aprende muito sobre a vida e vê que muita gente passa o que a gente passa... e é interessante porque tenho pesquisado sobre países para possivelmente imigrar com a minha família tentando fugir da "esquerda" digamos assim, e me deparo com esta questão dos cachorros abandonados no Chile. Confesso que não sabia disso.

    Eu sou "pai" de um gato a quatro anos(Pipoca o nome dele), minha historia com ele é parecida com a sua e a aproximadamente um mês e meio, me tornei pai de um cachorro de porte pequeno, um Shit-zu (Mr. Puppy seu nome) e tenho me surpreendido com o amor que ele tem na gente e o amor que tem nascido em nós por ele. Os cachorros mostram mais humanidade do que muitos humanos.

    Imagino que se imigrarmos para o Chile vai ser uma coisa complicada de ver esses cachorros "abandonados" e não me envolver.

    Um abraço e muito sucesso na vida ;)

    ResponderExcluir